Notas soltas sobre um momento delicado.
Olhando de longe, as coisas no Brasil parecem estar se radicalizando. Pensei em escrever um artigo maior para o site, mas vou esperar a semana que vem. Por dever de ofício, contudo, alguns pontos eu quero ressaltar.
1) O que vemos atualmente é a persistência das forças retrógradas no Ocidente todo e, especialmente, na América Latina e no Brasil. Pequenos avanços tem que ser combatidos e anulados, sempre.
2) Não me arrependo de ter apoiado a Dilma, como mal menor frente ao Aécio. Mas o PT tem se revelado bem longe do ideal e cada dia mais. A entrevista do Lincoln Secco na Carta Capital demonstra muito bem os erros, na mesma linha do que tenho escrito sempre. Um partido que quer ser tão moderado e paz e amor que parou de lutar por mudanças e até de se defender. E o pior, entrou na cartilha liberal, traindo os apoiadores em 2010 e 2014.
3) Eu, como apoiador, posso continuar criticando o Partido e o governo, como sempre fiz. Mas a crítica da direita, do tipo “Odeio a Dilma porque ela está a fazer o que o meu candidato disse que faria” é de matar.
4) Impeachment não é instrumento para tirar quem vc não gosta do poder, mas para casos específicos, o que não se aplica a Dilma. Defender isso agora é golpismo puro. Não defendi o impeachment do Beto Richa e não defendo o da Dilma. Um governante eleito democraticamente tem o direito de sacanear os governados, trair os eleitores, etc. A resposta é briga (vide o movimento no PR) e votação na eleição seguinte.
5) Vejo o ciclo do PT chegando ao fim em 2018. O modelo teve sucessos enormes, mas falhou por excessiva moderação e medo e se esgotou. Se a alternativa é o PSDB, continuo apoiando o PT, mas um nova esquerda precisa surgir, dentro do PT (Haddad?) ou fora dele (Luciana Genro?), no Brasil.
6) Petrolão? A coisa é tão simples, na verdade. Se a investigação é justa (agora, está a proteger o PSDB, ao que me parece), prenda-se quem for preciso. Não importa o partido, delito é delito. Mas a seletividade de acusados e denunciados inviabiliza a coisa. E não esqueçamos que destruir a Petrobrás (de fato, com problemas imensos, mas longe de estar falida) e ganhar trilhões na sua privatização é a menina dos olhos da direita nacional e internacional hoje.
7) Financiamento público de campanha e coalizões baseadas em propostas, não em cargos. Seria um avanço imenso, democratizando as eleições e impedindo esse sistema de clientelismo político que envenena o poder. Mas não vai passar, até porque esse sistema interessa a todos os que estão lá. Grita-se contra a corrupção, entidade metafísica, mas ninguém faz o que precisa mesmo contra ela.
8) Rosa Luxemburgo escreveu sobre como as massas só aprendem vivenciando não apenas vitórias, mas também derrotas. Questionável se isso realmente acontece, mas talvez seja o caso agora. Talvez o PT e a esquerda nacionais precisem ser sacudidos no seu marasmo por derrotas e talvez a classe C ou mesmo a classe média precisem sofrer de verdade, na carne, para entenderem o que está em jogo. As vezes, derrotas não levam a lições e mudança de rumos, mas quem sabe não seja a única alternativa?
Esperemos. Esse final de semana vai ser um “tempo interessante”, como diria tio Hobsbawn