João Fabio Bertonha

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Brasil 2016: Itália, USA ou Argentina?

Brasil 2016: Itália, USA ou Argentina?

 

Eu já perdi o ânimo de discutir a política brasileira atual. Escrevi vários textos nesse site, mas fato é que a política, enquanto debate de opiniões e do contraditório, está morta no Brasil. Refletindo bem o que somos, estamos agora numa partida de futebol, com paixões acendidas de lado a lado e o ódio grassando. Escrever, debater, argumentar, tudo isso é praticamente inútil. Nunca mudei a opinião de ninguém, creio, e não mudarei agora.

Claro que algumas coisas, para mim, estão claras. Há muito não defendo mais o PT e o governo Dilma e o projeto petista está no fim. A chegada de Lula ao Ministério é a cartada final, a última tentativa de reagrupar as forças de esquerda para salvar o salvável. No entanto, se, desde 2003, não se buscou realmente uma política mais a esquerda, as desastrosas decisões de Dilma em 2015 só pioraram tudo. Difícil acreditar que haja uma mudança radical e que dê resultados agora. Do mesmo modo, a mídia e parte do Judiciário estão claramente numa batalha final para derrubar o governo, e que se danem as normas democráticas.

Eu sempre comentei com meus alunos que o Brasil iria seguir a trajetória da Argentina, apenas com mais reacionarismo e tons evangélicos. Na Argentina, a era Kirchner terminou e Macri cumpre sua agenda liberal, a direita. Eu propunha que, em 2018, Aécio e o PSDB iriam ser vitoriosos, representando o grande capital financeiro, a mídia, etc. Ele teria como vice algum pastor ou alguém da bancada do boi, da bala e da Bíblia. Uma chapa insuperável, que venceria de cara e que seria um imenso retrocesso para o país. Mas algo inevitável, dada à conjuntura, e que, pelo menos, estaria dentro da normalidade democrática.

Agora, começo a duvidar e a acreditar que os nossos “hermanos” estão muito melhor do que nós. Se a política enquanto ódio prosseguir (e esse ódio vem mais da direita do que da esquerda, convenhamos), como ter normalidade democrática? E, especialmente, se avançarmos para a antipolítica, a situação será ainda mais complicada. Quando vi Aécio, Alckmin e o PSDB sendo hostilizados e, no caso de Aécio, denunciados, percebi a antipolítica crescendo. O cenário dominante ainda é “O PT é o mal absoluto. Vamos eliminá-lo e voltar aos bons tempos”. Ele já é ruim o suficiente, mas se ele caminhar para “Que se vayan todos”, teremos um vácuo, potencialmente ainda mais perigoso.

Na Itália, isso aconteceu no início dos anos 1990. Sem entrar em detalhes, a luta contra a corrupção destruiu o sistema político italiano, eliminando socialistas e democrata-cristãos, que eram a sua base. No vácuo de poder, emergiu uma figura bancada pelo dinheiro e pela mídia: Silvio Berlusconi. Em seus vinte anos no poder, a corrupção cresceu ainda mais e a Itália sofreu um retrocesso que ainda a impacta.

Já nos EUA, o partido republicano permitiu que as alas mais radicais, violentas e contra qualquer compromisso (sendo a sua fortaleza, especialmente, o sul dos EUA) crescessem, pois era conveniente. Agora, os próprios republicanos tradicionais observam, com horror, o partido tendo que escolher entre um fundamentalista religioso, Ted Cruz, e um populista de direita midiático, Donald Trump. A revolução pode engolir seus filhos, como talvez possa acontecer agora com PSDB, PMDB, etc.

No vácuo, quem emergiria? Não tenho como saber. Sérgio Moro, o incorruptível que jogou o Estado de direito brasileiro no lixo? Bolsonaro, que vai resolver tudo com bala e porrada? Não sei, mas, se a política é algo desagradável e complicado, a antipolítica é ainda pior. Vide Fernando Collor de Mello. Pagaremos um preço alto pela situação atual, em todos os aspectos.

Eu sempre comentei que, em termos de história comparada, os países mais próximos do Brasil seriam Portugal, Espanha, Itália, Argentina e Estados Unidos. Me equivoquei. O Brasil é um “Portugal + escravidão” e nosso verdadeiro modelo são os Estados Confederados da América. O sul venceu a guerra civil nos EUA e o “arcaísmo como projeto” triunfou de vez no Brasil. Esperanças? Poucas.

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Publicado em março 17, 2016 por .
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