João Fabio Bertonha

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Brexit. Boa nova para o projeto europeu?

Brexit. Boa nova para o projeto europeu?

 

Escrevo no calor da hora, absorvendo a notícia da decisão de 52% dos britânicos em deixar a União Europeia. Ninguém ainda pode saber, com certeza, os desdobramentos tanto dentro do Reino Unido como no resto da Europa. Iniciar-se-á uma debandada geral?  A Europa finalmente fará alguma correção de rumo num projeto que faz água para todos os lados? Ninguém pode saber.

Uma primeira coisa é certa: o blefe de Cameron falhou. Ao propor o referendo em 2013, David Cameron continuava e aperfeiçoava o tradicional jogo britânico de aproveitar as vantagens de pertencer ao bloco, mas sem ter os ônus. Desde o início, o Reino Unido sempre foi uma das principais forças a bloquear quaisquer mudanças mais fundamentais, no sentido de maior integração, dentro do bloco. Do mesmo modo, seu “excepcionalismo” permitia que seu sistema financeiro e econômico colhesse os frutos de pertencer à Europa, mas sem dividir os problemas com o resto do bloco.

Cameron jogou mais uma vez nesse sentido e, com o referendo, a aposta era clara: nós, britânicos, só ficaremos se a UE ceder ainda mais e nos permitir seguir nossas próprias normas no tocante à imigração, moeda e outras. Bruxelas cederia, como sempre cedeu, o povo britânico votaria a favor e o Reino Unido continuaria a ser um país da EU, mas ainda mais cheio de privilégios.

Dessa vez, contudo, a aposta deu errado e Londres, agora, terá outra realidade pela frente. Poderá controlar novamente suas fronteiras, gerir sua moeda à vontade e esquecer as normas comunitárias. Mas como ficará sua economia e, especialmente, a City londrina sem a conexão com a UE? Minha aposta é que o Reino Unido acabará retornando para a União Europeia em alguns anos, até por falta de opção. Mas, se o fizer, será dentro de novos parâmetros, aceitando ser apenas um Estado-membro a mais, sem tantos privilégios.

Nesse sentido, talvez o Brexit seja o tapa na cara de que as lideranças europeias precisem para renovar um projeto moribundo. A União Europeia era um projeto de progresso, paz e prosperidade para os países europeus, de solução coletiva dos problemas coletivos. Como já escrevi muitas vezes nesse espaço, ela se tornou, contudo, um veículo de propagação do neoliberalismo, da austeridade e da falta de esperança. E quaisquer sonhos de gerenciamento europeu dos problemas foram frustrados pelo egoísmo nacional. Nesse sentido, para que ficar na União Europeia, para que se dar ao trabalho de permanecer nesse tipo de projeto?

A saída da Inglaterra escancarou essa crise quase terminal. Já que a única resposta europeia à crise é austeridade e já que o problema crucial que é a imigração não é tratado em termos coletivos, salve-se quem puder. Referendos pela saída da UE deverão ser chamados agora na França, na Itália, etc. Ou a União Europeia se modifica no sentido de mais democracia, mais integração e mais solidariedade ou então é melhor mesmo que seja dado um reset e tudo se inicie do zero. O futuro da Europa passa pela integração, mas, se a única integração possível é a que se apresenta hoje, talvez os britânicos estejam certos em pular fora do barco.

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Publicado em junho 24, 2016 por .
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