Momento eleitoral 2
Estou numa correria danada, voltando do Concurso de Livre Docência e me preparando para ir a Berlim. Mas não dá para não fazer mais alguns comentários sobre o cenário eleitoral.
Tenho percebido que há vários grupos dando votos (ou apoio) a Marina, a saber:
- A classe média, cujo ódio pelas pequenas melhoras implantadas pelo PT é tamanho que aceitam até alguém que, visualmente, é o oposto do seu ideário. Ela não fala inglês, não é loira de olhos azuis, elegante, etc., mas, se é para destruir o “monstro vermelho”, vale tudo.
- Uma parte substancial da classe D e E, bombardeada pela mídia dia e noite e que não liga as pequenas melhoras no seu cotidiano com a política. Exemplo: já vi várias empregadas domésticas dizendo que votarão na Marina, apesar de essa classe ter sido tão beneficiada, com razão, pelo governo petista.
- Uma parte esclarecida da elite e da classe média (microscópica), que critica as imensas falhas e problemas do governo do PT, como a estagnação econômica, a incapacidade de enfrentar problemas estruturais de verdade, etc. A vantagem desse grupo é que são mais racionais e não ficam babando ódio e com o qual, portanto, é possível argumentar. O problema desse grupo é que não identifica que as alternativas disponíveis não representam solução desses problemas, pelo contrário.
- Uma parte enorme da elite financeira, que ganhou horrores no governo do PT, mas que quer mais. As propostas da Marina de autonomia do Banco Central, diminuição de direitos trabalhistas e diminuição das restrições para o uso de recursos financeiros por parte dos bancos e outras refletem isso. Tudo isso foi ventilado nos últimos dias e, mesmo que seja boato, creio que refletem um quadro geral de reformas no sentido liberal por parte da candidata. Os donos do dinheiro preferiam Aécio, mas Marina é uma boa opção, viável.
- Uma parte da classe C, que não virou classe média (dizer que o Brasil é hoje país de classe média é mera propaganda do governo), mas melhorou levemente de vida e, agora, já começa a pensar como classe média. O exemplo típico é o cara que frequentou uma Universidade privada pelo PROUNI e, depois de formado, conseguiu um emprego um pouco melhor. Continua na beira da pobreza, mas compra um Fox em 480 parcelas e se acha classe média ou elite (afinal, como diz Marina, todos somos elite), atacando os “vagabundos que precisam de bolsa”. Eles serão os mais atingidos pelo corte liberal do novo governo, mas daí eles retornarão à classe D, resignados que “pobre não tem sorte mesmo”.
- Uma parte substancial dos evangélicos, a força mais retrógada da sociedade hoje em dia (com as exceções de praxe). Eles ficam felizes com o recuo de Marina na esteira de Silas Malafaia e outros e seu ataque aos direitos dos homossexuais, das mulheres, etc. O fato de ela, aparentemente, ter sido escolhida por Deus para vencer a eleição (afinal, o Eduardo Campos morreu e ela não) e ter um visual com o qual eles se identificam apenas ajuda a formatar o apoio.
Alguns desses grupos me parecem inatingíveis. Os de número 1, 4 e 6 estão firmemente com Marina e não há como reverter. Os de número 2, 3 e 5 podem ser reconquistados, talvez, se entenderem que eles pagarão o pato se o PT for alijado do poder. Como convencê-los disso? Não sei. Talvez uma saída fosse indicar que o projeto PT está em crise e não fazer uma defesa xiita do governo, como se tudo estivesse perfeito. Não está. Mas indicar que a melhor alternativa, agora, é a Dilma. Para eles, eu, pelo menos, falo sempre “Não sou petista, estou petista”.
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Fábio fiquei tão feliz por você grande abraço Jussara Obs. seus comentários sobre o cenário eleitoral é o que vinha comentando com meus colegas professores, muito pertinente. Date: Fri, 5 Sep 2014 14:26:23 +0000 To: jussaradaniela@hotmail.com
Obrigado! Abs