As Marchas
Honestamente, essas Marchas deram o que era esperado: meia dúzia de nostálgicos de 1964, fanáticos da direita em várias versões, etc. sem nenhuma expressão ou importância. Virou inclusive uma coisa cômica. Num dos vídeos aparece um cara com o cabelo do Sr. Spock e se dizendo a favor do fascismo, mas sem saber dizer o que era isso. Num outro, o livro do Olavo de Carvalho é usado como arma contra opositores, sendo bom para isso, pois é pesado em termos físicos, apesar de ser um amontoado de bobagem no tocante ao conteúdo. Enfim, é para rir.
Elas terem sido o fracasso que foram também tem a ver com o total e completo senso do ridículo e do político deles. Pedir a volta da ditadura militar num contexto em que as FFAA não estão mais interessadas nesse papel, a maior parte da população está satisfeita com o governo federal, etc. é puro nonsense. Talvez eles o saibam e queiram apenas exposição na mídia, mesmo que seja para virarem objeto de riso e escárnio, mas eu não duvido que alguns possam ter mesmo imaginado que, a partir dessas Marchas, os militares sairiam dos quartéis.
Enfim, não me preocupo em excesso com eles. São chatos de internet e, se vc encontrar um grupo na rua, não deve ser muito agradável. Mas são, na maior parte, pessoas que foram fanatizadas por uma ideologia (ou várias) da direita e que acreditam, realmente, que tem que agir. Direito delas. Enquanto ficarem nisso, não me incomodam.
O que preocupa é a verdadeira direita, liberal, conservadora, encastelada no poder econômico, no político (ruralistas, PSDB, evangélicos conservadores, etc etc), na mídia (só um doido veria a nossa mídia como dominada pela esquerda gramsciana), etc. Eles não podem dar golpe de Estado, até porque as FFAA não querem, mas vão tentar vencer nas eleições. Percebe-se que o ataque contra o governo do PT vem de vários fronts: desde as baixarias e bobagens de um Constantino ou uma Sherazade até a manipulação pesada das notícias, mobilização no Congresso, etc.
A direita está errada em se organizar? Talvez não. A questão intrigante para mim, sempre, é como a esquerda não se organiza direito para enfrentar o desafio da direita. Parece haver uma confiança numa figura mítica e positiva (“o povo”) e isso quase sempre não dá certo. Não há iniciativas de verdade para enfrentar a batalha cultural em voga e talvez sejamos até ingênuos, dando importância aos malucos das Marchas e esquecendo que a verdadeira batalha está acontecendo em outros lugares. Ou não?