Fascismo na Ucrânia?
Depois da mudança política na Ucrânia, começaram a circular noticias de uma volta do fascismo no país, na presença maciça de neonazis nas manifestações anti-governo e no novo sistema que se impôs. Tal força fascista parece estar justificando, inclusive, a mobilização de tropas na fronteira, por parte dos russos, hoje.
Bom, temos que ter cuidado com isso. Não se pode subestimar a força da extrema-direita na Ucrânia, responsável por tantas atrocidades, especialmente durante a ocupação nazista. E essa extrema direita está presente nessas manifestações. Que melhor oportunidade, aliás, para conseguir visibilidade e poder extravasar sua agressividade do que essa?
No entanto, a força eleitoral deles continua abaixo dos 10% (abaixo, aliás, da força dos seus companheiros de ideias em vários países do Ocidente) e sua presença nas manifestações é superestimada tanto porque interessa à Rússia e aos opositores do novo governo dizerem que o fascismo está de volta porque a mídia, em geral, adora filmar manifestações neonazistas, que trazem impacto visual e audiência.
O que temos na Ucrânia são várias disputas ao mesmo tempo. De uma parcela da população que quer se integrar à Europa e outra que prefere a Rússia. Entre os que optam pelo modelo europeu (e que olham a “Europa” como algo menos territorial e mais ideológico) e os que preferem o russo, mais autoritário; entre dois grandes blocos geopolíticos (USA-EU e Rússia) que se enfrentam; entre grupos oligárquicos querendo espaço no Estado e na economia e entre grupos minoritários, mais importantes, que querem impor sua agenda. Desses conflitos todos sairá uma nova Ucrânia.
Os cenários prováveis são a guerra civil (como indiquei em post anterior), uma anulação da Ucrânia como país neutro entre os grandes blocos ou uma divisão amigável, com uma parte formando uma Ucrânia europeia e outra se incorporando à Rússia. Não vejo alternativas outras. Os neonazis podem tornar a vida difícil na Ucrânia para russos, judeus, estrangeiros, etc. e são uma força a ser considerada, mas as perspectivas reais de eles tomarem o poder é mínima e nunca seria tolerada pela Rússia e nem pelo Ocidente. Dizer que o novo Estado é “fascista” é superestimar as forças dos verdadeiros fascistas e indica, acima de tudo, como o termo ainda tem imenso valor político para desqualificar o adversário.
Recomendo alguns artigos que andei lendo sobre o tema, para os que compreendem esses idiomas, claro. O artigo em alemão, aliás, é especialmente recomendado, pois os alemães parecem entender o que está acontecendo na sua fronteira leste.
http://internacional.elpais.com/internacional/2014/02/26/actualidad/1393418613_266083.html
http://internacional.elpais.com/internacional/2014/02/25/actualidad/1393344064_727792.html