João Fabio Bertonha

fabiobertonha@hotmail.com

Haddad e a cracolândia

Depois da ação da Polícia civil na Cracolândia em São Paulo, só posso chegar a duas conclusões:

 

1)      As drogas são realmente um grande negócio e tem gente ganhando muito dinheiro em volta delas. E não falo apenas dos traficantes, mas de todos os que precisam da figura maligna do “drogado” para justificarem seus orçamentos, suas bancadas políticas, etc. Vejam que não sou nem um pouco favorável ao “coitadismo” de parte da esquerda, que acha que todos os drogados e traficantes são vítimas da sociedade e, como tal, isentos de culpa por toda a violência e transtornos que causam. Também tenho horror pelos danos que as drogas causam nas pessoas, na sua saúde e nas suas vidas. Apologia às drogas é algo que nunca farei.

No entanto, eu não tenho mais dúvidas de que a legalização é o único jeito, já que o sistema de repressão continuada não funciona (como não funcionou em nenhum lugar), é custoso e desvia os recursos da polícia da proteção ao cidadão em favor dessa guerra sem fim. Com a legalização, cocaína, maconha e outras drogas poderiam ser produzidas dentro de padrões mínimos de qualidade, recolhendo impostos, e os traficantes se tornariam empresários, acabando com a violência entre eles. Caberia ao Estado controlar os efeitos danosos e tentar educar as pessoas a não se drogarem. Ficaria tudo mais ou menos no mesmo nível do álcool e do tabaco hoje. Afinal, se é para reprimir drogas que fazem mal às pessoas e à sociedade, porque o álcool não é proibido, já que causa mais desgraças e mortes que todas as drogas ilegais juntas? Aliás, como é hipócrita ver algumas pessoas esbravejando contra a maconha, por exemplo, e, logo depois, saírem para encher a cara sem problemas, inclusive dirigindo depois.

 

2)      A questão da cracolândia, contudo, vai além. Ninguém pode negar o tino político do PSDB ao identificar, no Haddad, um potencial candidato ao governo de SP e à Presidência, a ser morto no ninho. Ele tentou fazer alguma justiça social com o IPTU, tentou melhorar os corredores de ônibus e dar um tratamento diferente à Cracolândia. Foi tudo bloqueado na Justiça, inviabilizado, etc. Para o PSDB, perder o Paraná seria ruim e ficar sem Minas uma catástrofe, mas sem São Paulo o PSDB acaba. Haddad então tem que ser abatido no ninho, antes que cresça. Tanto o governo estadual como a mídia já estão em plena campanha contra ele e não sei se consigo ser otimista com o resultado. Se o ser prefeito de São Paulo é uma tarefa ingrata (pois resolver décadas de destruição urbana, desigualdade, etc. em poucos anos é impossível), a tarefa do Haddad é ainda pior. O admiro, mas não sei se o invejo.

 

 

Um comentário em “Haddad e a cracolândia

  1. Raymundo de Lima
    janeiro 25, 2014

    Fábio. A drogadicção ou toxicomania é um desafio brutal para governos de esquerda, centro ou direita. O que me causa “espécie” [conforme diz o ministro Joaquim Barbosa] é a falta de apoio científico nas medidas tomadas pelos governos. Exceto os psiquiatras, que sempre são convocados para dar parecer técnico, os psicólogos, sociólogos e antropólogos urbanos ou não são convocados ou não tem alternativas de ação preventiva ou curativa. Suspeito que as pesquisas de meus colegas psicólogos e psicanalistas são de teor abstracionistas ou como você disse caem no “coitadismo” dos viciados ou na vitimização ingenua deles. Sinalizo que “tentar educar as pessoas a não se drogarem” é um equívoco. Pq existem pessoas com tendência ao vício, feitas sob o domínio do “pharmakón”, já sinalizava Platão. Ou seja, nossa educação é IMPOTENTE para educar pessoas para evitar o primeiro gole do alcoolista, ou evitar experimentar apenas para curtir um baseado ou uma cheirada. Algo mais precisa, para além de “educar”, embora seja possível educar as paixões no sentido da “virtude” ou da formação ética.

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Publicado em janeiro 25, 2014 por .
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